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6.3.06

Beckett – 100 Anos - Esperando Godot



TEATRO

A peça Esperando Godot, dirigida por Gabriel Villela, em cartaz no Sesc Belenzinho desde fevereiro e até o final deste mês, antecipou a comemoração do centenário do escritor irlandês Samuel Beckett (1906-1989), em abril. Ganhador do Prêmio Nobel em 1969, entre contos e poemas sem sucesso e peças montadas que seguiram o niilismo e diálogos marcantes de sua grande obra, foi criado Esperando Godot, aclamada pela crítica como sua obra-prima e marco do Teatro do Absurdo, após contínua rejeição de montadores. Escrita em 1949, foi revolucionária no sentido de transpor para o teatro a não-ação, inverter a linearidade da época e retratar com diálogo recheado de tiradas de humor negro proporcional à angústia e confusão que é a face do abandono humano.

Composta de dois atos, que, assim como em outras peças do autor, são, basicamente, a mesma encenação, com pequenas diferenças, Esperando Godot retrata dois vagabundos, que lamentam e relembram tempos melhores e esboçam arrependimento, esperando eternamente por Godot, do qual temos vagas referências do autor e que a crítica transformou desde uma metáfora de Deus (Deus, em inglês (God), com o sufixo diminutivo francês, língua original da peça, “ot”, que engrossa a ironia da peça quanto à questão religiosa), até mesmo a um literato provinciano, que defendia a encenação da tragicomédia quando esta era rejeitada pelas críticas do classicismo. Nesta longa espera, procuram por distrações e brincam com diálogos mal-formulados e personagens que passam pelo seu caminho. O jogo de palavras confusas, que se atropelam, conseguem se sobrepor à não ação que permeia a peça, reforçando a angústia e mantendo a tensão sobre o ‘nada’.

A montagem de Villela foi, em grande parte, ajudada pelo local, localizado no subsolo do teatro do Sesc. A impressão que uma vala circular metros abaixo da terra causa sobre a angústia dos personagens é eficiente e o palco circular permite a eles um movimento vicioso e estático. Mas, ao mesmo tempo, prejudica alguns efeitos que visam reproduzir o firmamento, logo contornados por sua criatividade e boa elaboração do figurino. Vilella, porém, dá continuidade à preferência dos diretores brasileiros por atrizes na encenação da peça, sendo que seu autor foi enfático quanto à sua preferência por atores masculinos. Antes de Vilella, houve a primeira montagem profissional brasileira, em 1968, em qual temporada Cacilda Becker teve seu derrame fatal; a dirigida por Antunes Filho e encenada por Eva Vilma, Lílian Lemmertz e Lélia Abramo em 1976 e, por fim, a montagem da Armazém Cia. de Teatro, com Patrícia Selonk.

Apesar da atuação impressionante de Vera Zimmermann como o carregador explorado Lucky e o Menino, que traz mensagens de Godot, além das eficientes de Magali Biff, como Vladmir, e Lavínia Pannunzio, como o arrogante ‘dono’ de Lucky, Pozo, Bete Coelho parece demasiada afetada na figura de Estragão, que parece necessitar de mais força e decisão para a indiferença inerente de suas falas. Além disso, houve a limitação do tempo da peça pela estrutura de horário do Sesc, apesar da já pesadas duas horas da montagem para uma peça densa como esta, que exige muito de seus atores. Mas o primeiro ato sai praticamente ileso e, o segundo, acelerado. Nada que altere o sentido da peça, que deve ser muito relembrado e, principalmente, confrontado, no próximo mês, assim como o foi por muitas décadas. Beckett, afinal, é isso: polêmica. E merece ser lembrado.

Marília Almeida

4 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Marília, bacana o texto sobre o Beckett. Bem escrito e informativo. Mas bacana mesmo é o blog ArteFato: bonito, agradável, cool, racional, cativante. Convida a ler (e a escrever). Parabéns a você e à Taís. Samir

12:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

Parece até que vc viu a mesma peça que eu, só que "viu" mais!!!!
bjs...
Continue que é por aí!...
Almeida

4:38 PM  
Anonymous Anônimo said...

Olá. Me chamo Felipe e li esse artigo. Eu aprecio bastante esse trabalho de Beckett, inclusive foi a primeira peça que encenei.
E, nossa, não sabia que já são 100 anos de comemoração.

Parabéns pelo blog, também.

10:46 PM  
Blogger Marília Almeida said...

Obrigada a todos pelos elogios. Felipe, que desafio ter encenado esta peça! Parabéns! 100 anos impõe respeito para um escritor como Beckett. Fugaz, mas eterno, não é mesmo?

6:12 PM  

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