As facetas de Clooney
FILMES DO OSCAR III
Clooney chamou a atenção, principalmente, por ter se tornado um ator e diretor politizado, com preferência por histórias com fundo histórico e político. Clooney é reconhecidamente anti-Bush e, após chamar atenção para a indústria do petróleo, o terrorismo e a decadência da CIA em Syriana, em Boa Noite, boa sorte dá uma cutucada na mídia de massa de seu país e na política americana no Oriente Médio, parecendo incrivelmente atual. Ele resgata a carreira do âncora de TV da rede CBS, Edward Murrow (David Strathairn), principalmente seu embate, na década de 50, com o senador Joseph McCarthy, que empregava sua caça aos comunistas no país. Ele se passa em uma TV recém implantada nos Estados Unidos, mas que já mostrava sua grande influência e poder.
Originalmente concebido para ser um especial para a rede CBS, o filme é impecável. Com um orçamento de US$7,5 milhões, não tem pretensões e se passa, praticamente, em um único ambiente: a rede de TV CBS. Clooney acerta em usar de todos artifícios disponíveis para não tornar o filme um documentário. Para começar, não há letreiros ou imagens de época para situar o público, mas, sim, um discurso de Murrow em uma festa em sua homenagem, que resgata toda sua carreira. As imagens de arquivo são usadas discretamente (McCarthy, no filme, é o próprio), livrando uma boa história de ser enfadonha. Há até mesmo um casal de atores ilustrativos, Joe (Robert Downey Jr.) e Shirley Wershba (Patrícia Clarkson), que acabam dando um tom leve à tensão do filme, apesar de, às vezes, ficarem um pouco deslocados na trama. Até mesmo a deliciosa trilha sonora, destacada no filme com a própria banda atuando em um dos estúdios da emissora, tem algo a acrescentar se prestarmos atenção às suas letras.
Sobram cigarros, máquinas de escrever e jornalismo romantizado em preto e branco, em seu eterno embate com a ética inerente da profissão e a guerra mercadológica dos meios de comunicação, na eficiente atuação de Strathairn. Clooney, no filme, é seu editor, um papel meio ‘banana’, mas que confirma sua promissora carreira, após uma pouco falada estréia como diretor com Confissões de uma Mente Perigosa, em 2002. Parece que o galã largou de vez o papel de bom moço e, conseqüentemente, está bem mais interessante.
Marília Almeida
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